QUE
A FILA ANDE PARA OS PROBLEMAS E SLOW MOTION
PARA
A FELICIDADE
Por Flávio Rezende*
Ao longo da vida vamos ouvindo várias frases em momentos cruciais da
nossa existência. Algumas apontam no sentido da vingança. Ontem li num jornal
local um dirigente esportivo dizendo que se as coisas não fossem como seu clube
determina que a fila andasse. Estava aborrecido com algumas situações. Muitas outras
surgem em diferentes momentos, como as que enaltecem o poder do silêncio diante
de agressões verbais, as que dizem que tudo passa e por ai vão.
Ontem estava num evento religioso e encontrei uma querida amiga. Como
sempre acontece com pessoas que mantém amistosas e sadias relações, o como vai
abre as portas para as verbalizações agradáveis e gentil permuta de novidades
do mundo que compartilhamos.
Infelizmente minha adorável amiga não tinha notícias agradáveis para
repassar em cordial encontro. A filha, tão amada, tão parecida com ela, havia
perdido o duelo para as drogas e renunciado a continuar existindo materialmente
em nosso tão belo planeta. Coube a ela a visão terrível do ato e, o desamarrar
do objeto que inocentemente serviu ao equivocado propósito, tornando todo o
contexto da situação tão difícil de ser internalizado que, até neste momento,
sinto a forte energia inundando meu ser, interrompendo um pouco a sequência da
digitação do texto que me vem à mente.
Respirando e tentando continuar, informo que naquele momento, todo meu
conhecimento, todo o acervo de frases apreendidas em minha caixola cerebral, todas as muletas espirituais e filosóficas que por ventura,
possua, não tiveram serventia nenhuma. Nada que podia ter dito faria sentido,
entrei num vácuo, a energia densamente pesada da informação baqueou, silenciou,
paralisou o meu ser.
A mente entra numa espécie de confusão, tudo que possa ser dito, pode
ser ofensivo ou inadequado. Se você tenta conformar, pode ser presunção. Se
quiser dizer que a vida continua, pode ser hipocrisia. Se der pêsames, pode ser
vulgar. Se não disser nada, pode ser insensível. Chorar, só se vier realmente
da fábrica interna, que às vezes produz lágrimas e, às vezes não, as emoções
tem vida própria.
Um abraço apertado é mais adequado. Quando os corpos se tocam, se unem,
acredito que os portais pessoais abrem-se e os sentimentos verdadeiros
transpassam os seres e os envolvem. É no calor do abraço amigo que o choro é
potencializado, servindo de catarse e de válvula de escape para energias armazenadas
que precisam ser dissolvidas no éter. O que chamam de Deus, aceita e recebe
tudo. Deus para meu ser é a vida como ela é, como diz meu amigo Rivaldo Andrade,
“... o mundo é
você. A realidade dele depende unicamente do seu grau de consciência
de si mesmo”. E continua...
O
interior é um só e o mais simples.
A
complexidade está na mente.
É tudo mentira.
Complicação a troco de mera complicação.
É tudo mentira.
Complicação a troco de mera complicação.
O ego
acha chique complicar.
Rivaldo
Andrade
E a vida segue, com encontros e desencontros que nos apresentam muitas
questões. Voltando as frases que vamos
ouvindo ao longo da vida, uma que me agrada e, que tenho constatado sua
veracidade, é que a única coisa que não muda, é que tudo muda tudo passa.
Quando um problema bate a sua porta, deixe o tempo passar um pouco, muitas
vezes ele não resiste a ele mesmo. Tem alguns que a gente mesmo não precisa
mover uma palha, ele pega fogo e vira cinza.
Encerro então o presente escrito desejando que a fila sempre ande para
os problemas, que todos eles, sejam de quaisquer magnitudes que forem, possam
seguir ou serem dissolvidos no tempo e no espaço, enquanto que os momentos
agradáveis, a convivência familiar, os encontros com os amigos, às ações
humanitárias que socializam nosso patrimônio material e espiritual entre todos
nós, os abraços apertados que revelam nossa solidariedade e amizade, os beijos,
as produções culturais do bem e as caminhadas e viagens em geral, possam
existir em “slow motion”, bem lentas, devagarinho, apelando ao senhor tempo para
que nestes casos, seja preguiçoso, seja generoso e, nos proporcione a vivência
das coisas boas da vida de forma bem prolongada e agradável, enchendo nossos
seres de energia e de vitalidade para seguir feliz cumprindo nosso dharma,
nosso karma, nossa sina ou, nosso destino, como prefiram em suas crenças
pessoais.
E, voltando ao amigo Rivaldo Andrade, deixo sua posição quanto ao
existir: “A vida é um filme, mas não adianta revelar porque é mentira. Há que
se esvaziar a cabeça de tanto clichê idiota lançado pela intelectualidade
vazia, pela psicologia, filosofia, espiritualidade e religião. Fique em paz
apenas, isso jamais é negado a ninguém, basta buscar em si mesmo, no próprio coração.
A Luz cuida de tudo!”.
* É escritor, jornalista e ativista social
em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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