sábado, 8 de dezembro de 2012

Livrarias QUANTAS MORRERAM? QUANTAS VÃO MORRER?


                                                                  Ciro José Tavares

O meu dileto amigo Carlos Roberto de Miranda Gomes, chega logo cedo, nesta sexta-feira, dia 07 de dezembro, com notícia que apunhala o coração. A tradicional Livraria Universitária, na Avenida Rio Branco, em Natal, criada pelo inesquecível Walter Pereira, que amava os livros como se fossem parte do seu corpo, cerrou suas portas com um simples aviso: Saudades.
Carlos relata, num texto dolorido, o que significou para muitos e para a cidade aquele estabelecimento de cultura, que hoje reconheço ter sido última Arcádia natalense. Aproveito para mergulhar no tempo passado com as duas perguntas que abrem essas palavras.
A morte das livrarias é uma questão do amadurecimento cultural, dos desvios na educação de jovens e adultos. Quando a nossa geração, a de Carlos Roberto e minha, frequentava bancos escolares, os mestres estimulavam o hábito da leitura e também da análise literária para saber se, realmente, havíamos compreendido o texto lido. Lembro-me que no 4º ano ginasial, as fábulas de Esopo, em latim, eram nossas lições. Queimávamos as pestanas para trazê-las, da forma indireta para a direta e, com a ajuda dos professores e dos dicionários, traduzi-las. Época maravilhosa! Tínhamos jornais, onde publicávamos nossos artigos, poemas, fotos, notícias, brincadeiras. Constituíamos grêmios literários e nos auditórios representávamos peças teatrais, fazíamos discursos, concursos de poesias e gincanas literárias. Foi há muito tempo.
Quando tiraram o latim do currículo escolar, gênese da língua portuguesa, os cientistas da chamada academia universitária, com seus antolhos e bornais, sepultaram a beleza do idioma que já não era rico, conforme Olavo Bilac: “A última flor do Lácio, inculta e bela”. Depois estabeleceram a aprovação pelo sistema da múltipla escolha, a loteria dos ignorantes. Finalmente “o alto nível televisivo”, gírias e demais aberrações completaram o serviço.
Ao longo dos anos, por falta dos clientes habituais, as boas livrarias foram desaparecendo. A José Oyimpio, um verdadeiro centro de cultura, no Rio de Janeiro, foi um delas. No Recife, a Livraria \imperatriz e a Livro Sete são atualmente marcas do passado. Dona Vanna Piraccini, responsável pela Livraria Leonardo do Vinci, no Rio de Janeiro, através de quem obtive as obras de grandes poetas ingleses do século XVIII, disse-me das dificuldades do comércio livreiro em decorrência da ausência de leitores.” Estoque, importá-los, para que? Se não há quem os leiam e os  procurem” confessou-me.
Em Buenos Aires, na Calle lavalle, somos humilhados pela quantidade de livrarias. O povo argentino é sequioso por boas leituras e os estabelecimentos vivem cheios de clientes, sejam jovens ou idosos, homens ou mulheres. Há um cheiro de cultura nas ruas da capital portenha. As livrarias são fortes sinais do preparo e conhecimento de um povo. Quando morrem morremos nós também.
Só falta agora acabar os sebos, última fronteira dos livros raros, como se não bastasse a linha editorial descendente.
Ciro José Tavares
Advogado,Escritor e Poeta

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