Ciro José Tavares
O meu dileto amigo Carlos
Roberto de Miranda Gomes, chega logo cedo, nesta sexta-feira, dia 07 de
dezembro, com notícia que apunhala o coração. A tradicional Livraria
Universitária, na Avenida Rio Branco, em Natal, criada pelo inesquecível Walter
Pereira, que amava os livros como se fossem parte do seu corpo, cerrou suas
portas com um simples aviso: Saudades.
Carlos
relata, num texto dolorido, o que significou para muitos e para a cidade aquele
estabelecimento de cultura, que hoje reconheço ter sido última Arcádia
natalense. Aproveito para mergulhar no tempo passado com as duas perguntas que
abrem essas palavras.
A
morte das livrarias é uma questão do amadurecimento cultural, dos desvios na
educação de jovens e adultos. Quando a nossa geração, a de Carlos Roberto e minha,
frequentava bancos escolares, os mestres estimulavam o hábito da leitura e
também da análise literária para saber se, realmente, havíamos compreendido o
texto lido. Lembro-me que no 4º ano ginasial, as fábulas de Esopo, em latim,
eram nossas lições. Queimávamos as pestanas para trazê-las, da forma indireta
para a direta e, com a ajuda dos professores e dos dicionários, traduzi-las.
Época maravilhosa! Tínhamos jornais, onde publicávamos nossos artigos, poemas,
fotos, notícias, brincadeiras. Constituíamos grêmios literários e nos auditórios
representávamos peças teatrais, fazíamos discursos, concursos de poesias e gincanas
literárias. Foi há muito tempo.
Quando
tiraram o latim do currículo escolar, gênese da língua portuguesa, os
cientistas da chamada academia universitária, com seus antolhos e bornais, sepultaram
a beleza do idioma que já não era rico, conforme Olavo Bilac: “A última flor do
Lácio, inculta e bela”. Depois estabeleceram a aprovação pelo sistema da múltipla
escolha, a loteria dos ignorantes. Finalmente “o alto nível televisivo”, gírias
e demais aberrações completaram o serviço.
Ao
longo dos anos, por falta dos clientes habituais, as boas livrarias foram
desaparecendo. A José Oyimpio, um verdadeiro centro de cultura, no Rio de Janeiro,
foi um delas. No Recife, a Livraria \imperatriz e a Livro Sete são atualmente
marcas do passado. Dona Vanna Piraccini, responsável pela Livraria Leonardo do
Vinci, no Rio de Janeiro, através de quem obtive as obras de grandes poetas
ingleses do século XVIII, disse-me das dificuldades do comércio livreiro em
decorrência da ausência de leitores.” Estoque, importá-los, para que? Se não há
quem os leiam e os procurem”
confessou-me.
Em
Buenos Aires, na Calle lavalle, somos humilhados pela quantidade de livrarias.
O povo argentino é sequioso por boas leituras e os estabelecimentos vivem
cheios de clientes, sejam jovens ou idosos, homens ou mulheres. Há um cheiro de
cultura nas ruas da capital portenha. As livrarias são fortes sinais do preparo
e conhecimento de um povo. Quando morrem morremos nós também.
Só
falta agora acabar os sebos, última fronteira dos livros raros, como se não
bastasse a linha editorial descendente.
Ciro José Tavares
Advogado,Escritor e Poeta
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