quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

MÁSCARAS MENOTTI Del Picchia.


 O Beijo de Arlequim (texto parcial)

 ARLEQUIM Que musicais surpresas
 Não encerra a mudez destas cordas retesas...
 CONFIDENCIAL A PIERROT
 Olha: Penso, Pierrot, que não existe em suma, entre a viola e a mulher, diferença nenhuma.
 Questão de dedilhar, com certa audácia e calma, numa ...
estas cordas de aço e na outra ...as cordas d’alma!
 O beijo da mulher! 
Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na boca...
 No contato do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar, como vibra uma corda...
 À vaga orquestração da frase que sussurra ver o corpo fremir tal qual uma bandurra...
 Desfalecer ouvindo a música que canta 
No gemido de amor que morre na garganta...
 Colar o lábio ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo... ir aos poucos subindo... até alcançar a boca e escutar num arquejo, o universo parar na síncope de um beijo!
 Eis toda a arte de amar!
 Eis Pierrot fantasista, a suprema criação da minha alma de artista.
 Compreendes?
 Pierrot ansiado; E A MULHER? 
Arlequim, lugubremente: A mulher?
 É verdade... Levou naquele beijo a minha mocidade.
 Pierrot E agora? 
Onde ela está?
 Arlequim, ironicamente místico: 
No meu lábio, no ardor desse beijo, que é todo um romance de amor!
 Seduzido pela angústia da saudade: 
No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo... 
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo... 
No contato desfeito e no rumor já mudo... 
No prazer que passou... nesse nada que é tudo: 
O passado!... a lembrança.... a saudade... o desejo... 
Balbuciando: Um jardim... Um repuxo ...
 Uma mulher... Um beijo... (Longo silêncio de evocação e cismas).
 Pierrot, ingenuamente: É audaciosa demais a tua história...
 Arlequim, ríspido: Enfim,
 Um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim.
 Toda historia de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher! .

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