domingo, 17 de fevereiro de 2013

Surge uma Nova Era: teletrabalho


RINALDO BARROS
ESCRITOR E PROFESSOR
“Só não existe o que não pode ser imaginado” (Murilo Mendes, 1901 a 1975).
(*) Rinaldo Barros
Dizem alguns mais ingênuos que o que mais engrandece (e ilude) um escrevinhador é pensar que, ao compartilhar seu conhecimento, pode tornar o mundo melhor. Assino embaixo, e prossigo nesta luta vã.
A verdade maior é que escrevo para fugir da solidão. Depois de escrito, o texto pertence aos leitores.
Aproveitei os dias do reinado de Momo para reler o livro “Ócio criativo”, do italiano Domenico De Masi, republicado pela editora Sextante, em 2000.
Masi nos ajuda a refletir sobre os temas da sociedade pós-industrial: o aumento do tempo livre e seu papel na criatividade; o desenvolvimento baseado na inovação tecnológica, mas com redução do emprego; o declínio das ideologias; a insatisfação com o modelo social do Ocidente, centrado na idolatria do ato de trabalhar, do deus-mercado e da competitividade.
O texto nos remete às contradições da Era industrial, alertando para o condicionamento que foi imposto pela industrialização, a partir do século XVIII, com o surgimento da sociedade de massas, fundada na hierarquização e centralização indispensáveis para o funcionamento da linha de produção nas fábricas.
Domenico nos relembra alguns “princípios” da sociedade industrial, completamente diferentes em relação ao trabalho agrícola ou artesanal das sociedades anteriores, pré-industriais; o que significou repensar e reorganizar a vida inteira de todas as pessoas.
É importante refletir hoje sobre tudo isso, pois estamos às vésperas de uma revolução nova e, igualmente, drástica: a da reorganização pela informática do trabalho – o teletrabalho – que traz de volta o trabalho para dentro dos lares e, assim, nos obrigará a rever toda a organização prática da nossa existência.
A sociedade industrial, que está sendo substituída pela sociedade da informação – baseava (ou ainda baseia) sua organização nos seguintes princípios: 1) estandardização; 2) especialização; 3) sincronização; 4) maximização e 5) centralização.
A estandardização levou a produção de milhares de produtos idênticos, padronizados. Noção que se estende até mesmo ao desejo das pessoas de se sentirem iguais umas as outras, em vez de aspirarem a ser diferentes; o que induz ao consumismo de massa, muito conveniente porque gera lucros.
A especialização, levada às máximas consequências, fez com que milhões de trabalhadores repetissem durante muitos anos – milhares de vezes por dia – um só gesto ou uma só função; exatamente como foi ironicamente denunciado por Chaplin em seu filme “Tempos Modernos”, em 1936.
A cidade, por sua vez, também se especializou: concebeu-se a zona industrial, os bairros residenciais, os bairros comerciais e as zonas de lazer. É a “cidade funcional”, tão querida para a maioria ainda influenciada pelo arquiteto franco-suíço modernista Le Corbusier, inspirador de Lucio Costa e Niemeyer.
A cidade funcional significa que a vida, o trabalho, o estudo, a religiosidade e a diversão estão separados no espaço urbano. Agora, é o ser humano que se desloca rapidamente de um lugar para outro. E assim surgiram os sistemas infernais de transportes e mobilidade das cidades modernas.
 A sincronização, é óbvio, requer uma cidade “sincronizada”: para que todos estejam presentes na mesma hora, na mesma linha de montagem, todo mundo tem que sair e voltar pra casa no mesmo horário. A cidade congestiona-se devido ao deslocamento de todos os seus habitantes num só horário; gerando um grande desperdício, em nome da pontualidade e da “eficiência”.
Uma parte da cidade fica deserta da manhã até a noite, nos dias úteis; e outra parte fica vazia de noite, nos finais de semanas e nos feriados. E haja consumo!
De Masi nos ensina que, na sociedade pós-industrial atual, este esquema “funcional” entra de novo em colapso, pois como as mudanças são contínuas e velozes, requerem uma formação também ininterrupta: seja na escola, na universidade ou no trabalho. Somos, ou voltamos a ser, eternos aprendizes.
            Segundo Masi, este novo modelo, esta Nova Era, está sendo construída baseada nas premissas de que é possível viver na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer; redistribuindo o tempo e a riqueza, reorganizando o trabalho e o espaço urbano; para privilegiar a satisfação de necessidades básicas do ser humano, tais como, o lazer e o convívio com amigos e familiares, e o livre pensar a serviço da criatividade e da inovação, a ser compartilhado com toda a humanidade.  
A concepção estática de cidade está sendo superada.
Resumo da ópera: estamos vivenciando uma ruptura na base do capitalismo: a substituição da funcionalidade do “sistema” pelo conceito de “rede social”; e da competitividade pela solidariedade.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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