Escritor e Professor Rinaldo Barros
A conversa de hoje vai ser coberta de nostalgia. Afinal, eu
sou do tempo em que a juventude possuía ideais e ainda se acreditava na utopia.
Além disso, as equações político-ideológicas eram
simplificadas. Havia governo e oposição, claramente definidos. Era mais fácil
delimitar o campo dos adversários e até do inimigo principal.
Na teoria clássica marxista, o sujeito da história era
determinado: o proletariado industrial tinha interesses próprios que negavam -
se contrapunham -, na sua prática, os interesses da classe dominante.
Dado o aumento contínuo do seu contingente e a agudização
das contradições, o proletariado teria condições para generalizar, para o
conjunto da sociedade, suas, aspirações de libertação. O proletariado unificava
politicamente a vontade geral de mudança.
Tudo era claro como água de rocha. Bastava construir o
partido, internacionalista, e estabelecer as alianças (com o campesinato e com
a fração da burguesia "nacional") e estavam dadas as condições para a
longa marcha da conquista da nova hegemonia. O processo poderia ser pacífico ou
não. A tática dependeria do inimigo. Era o sonho garantido ou sua utopia de
volta.
Saudades fora, qual é o problema, então?
Negó seguin: no caso brasileiro, formou-se uma
heterogeneidade estrutural nas classes dominadas e surgiu um novo tipo de
padrão de desenvolvimento capitalista que, simplesmente, destroem o argumento
clássico, em relação à questão de hegemonia do proletariado.
Explico-me: o Brasil alavancou o seu processo de
desenvolvimento tardiamente e se inseriu no sistema capitalista-industrial já
na fase monopólica (na verdade, oligopólio). Saltou de cara do modelo
agroexportador para o desenvolvimento industrial-internacionalizado.
Desde então, fábricas de automóveis, fábricas de aviões,
fábricas de locomotivas elétricas, de computadores, siderúrgicas, refinarias,
polos petroquímicos, industriais de química fina, dentre outros, convivem com
latifúndios improdutivos, com boias-frias e com uma economia camponesa
atrasada, pré-capitalista.
Este tipo de desenvolvimento dependente caracterizou-se
ainda por um crescimento urbano acelerado e pela formação de um amplo e
crescente setor de serviços sofisticados, ao lado da implantação de um modelo
cultural (“the american way life”) consumista, ainda que de forma caricata e
incompleta.
A sociedade civil brasileira ainda está engatinhando. Ainda
tem que decidir para onde dará os primeiros passos, resolvendo o dilema
“partido ou movimento social?”, “basismo-assembleísmo ou representação
política?”.
A dificuldade maior está na falta de clareza nas análises
(sob o peso do século XX) e perturba a visão do presente. Tenta-se entender o
presente com conceitos ultrapassados. Não se percebe que a classe operária
brasileira não é semelhante à europeia e que o atual padrão de desenvolvimento
é diferente daquele do capitalismo competitivo-liberal. Não se percebe que o
futuro do Brasil não vai se desenvolver político-socialmente como ocorreu na
Europa. Será diferente, mas não está claro como realmente será.
Uma confusão dos infernos para quem tenta compreender!
Entramos numa era mundial de agudas e rápidas flutuações –
nas taxas de câmbio da moeda, nos índices de emprego, nas alianças
geopolíticas, nas definições ideológicas da situação.
A saída está no planejamento, com vários cenários
alternativos. É tempo de realizar uma ação política muito mais eficaz no
esforço de, nos próximos 20-30 anos, criar um sistema-mundo melhor do que
aquele em que estamos todos enredados hoje.
Aqui no patropi, é preciso, portanto, decifrar - estudando
nossa história recente - o enigma da expressão das peculiaridades da sociedade
brasileira.
Por exemplo, a questão secular da seca no semiárido
nordestino é fácil de equacionar para conviver com a realidade imposta pela mãe
Natureza.
No semiárido do Nordeste brasileiro, por exemplo, é
prioridade indispensável e urgente construir a Segurança Hídrica, com a
integração de todas as bacias e reservatórios. Como primeiro passo de muitas
ações planejadas, esse desafio – no mínimo – seria a garantia da Segurança
Alimentar. Ou seja, planejando, dá!
Resumo da ópera: vivamos com o legado desta frase lapidar
"Não existe caminho, o caminho se faz ao caminhar." Façamos o dever
de casa.
(*) Rinaldo Barros é
professor - rb@opiniaopolitica.com
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