terça-feira, 30 de abril de 2013

FAÇAMOS O DEVER DE CASA




                                                                 Escritor e Professor Rinaldo Barros



A conversa de hoje vai ser coberta de nostalgia. Afinal, eu sou do tempo em que a juventude possuía ideais e ainda se acreditava na utopia.

Além disso, as equações político-ideológicas eram simplificadas. Havia governo e oposição, claramente definidos. Era mais fácil delimitar o campo dos adversários e até do inimigo principal.

Na teoria clássica marxista, o sujeito da história era determinado: o proletariado industrial tinha interesses próprios que negavam - se contrapunham -, na sua prática, os interesses da classe dominante.

Dado o aumento contínuo do seu contingente e a agudização das contradições, o proletariado teria condições para generalizar, para o conjunto da sociedade, suas, aspirações de libertação. O proletariado unificava politicamente a vontade geral de mudança.

Tudo era claro como água de rocha. Bastava construir o partido, internacionalista, e estabelecer as alianças (com o campesinato e com a fração da burguesia "nacional") e estavam dadas as condições para a longa marcha da conquista da nova hegemonia. O processo poderia ser pacífico ou não. A tática dependeria do inimigo. Era o sonho garantido ou sua utopia de volta.

Saudades fora, qual é o problema, então?

Negó seguin: no caso brasileiro, formou-se uma heterogeneidade estrutural nas classes dominadas e surgiu um novo tipo de padrão de desenvolvimento capitalista que, simplesmente, destroem o argumento clássico, em relação à questão de hegemonia do proletariado.

Explico-me: o Brasil alavancou o seu processo de desenvolvimento tardiamente e se inseriu no sistema capitalista-industrial já na fase monopólica (na verdade, oligopólio). Saltou de cara do modelo agroexportador para o desenvolvimento industrial-internacionalizado.

Desde então, fábricas de automóveis, fábricas de aviões, fábricas de locomotivas elétricas, de computadores, siderúrgicas, refinarias, polos petroquímicos, industriais de química fina, dentre outros, convivem com latifúndios improdutivos, com boias-frias e com uma economia camponesa atrasada, pré-capitalista.

Este tipo de desenvolvimento dependente caracterizou-se ainda por um crescimento urbano acelerado e pela formação de um amplo e crescente setor de serviços sofisticados, ao lado da implantação de um modelo cultural (“the american way life”) consumista, ainda que de forma caricata e incompleta.

A sociedade civil brasileira ainda está engatinhando. Ainda tem que decidir para onde dará os primeiros passos, resolvendo o dilema “partido ou movimento social?”, “basismo-assembleísmo ou representação política?”.

A dificuldade maior está na falta de clareza nas análises (sob o peso do século XX) e perturba a visão do presente. Tenta-se entender o presente com conceitos ultrapassados. Não se percebe que a classe operária brasileira não é semelhante à europeia e que o atual padrão de desenvolvimento é diferente daquele do capitalismo competitivo-liberal. Não se percebe que o futuro do Brasil não vai se desenvolver político-socialmente como ocorreu na Europa. Será diferente, mas não está claro como realmente será.

Uma confusão dos infernos para quem tenta compreender!

Entramos numa era mundial de agudas e rápidas flutuações – nas taxas de câmbio da moeda, nos índices de emprego, nas alianças geopolíticas, nas definições ideológicas da situação.

A saída está no planejamento, com vários cenários alternativos. É tempo de realizar uma ação política muito mais eficaz no esforço de, nos próximos 20-30 anos, criar um sistema-mundo melhor do que aquele em que estamos todos enredados hoje. 

Aqui no patropi, é preciso, portanto, decifrar - estudando nossa história recente - o enigma da expressão das peculiaridades da sociedade brasileira.

Por exemplo, a questão secular da seca no semiárido nordestino é fácil de equacionar para conviver com a realidade imposta pela mãe Natureza.

No semiárido do Nordeste brasileiro, por exemplo, é prioridade indispensável e urgente construir a Segurança Hídrica, com a integração de todas as bacias e reservatórios. Como primeiro passo de muitas ações planejadas, esse desafio – no mínimo – seria a garantia da Segurança Alimentar. Ou seja, planejando, dá!

Resumo da ópera: vivamos com o legado desta frase lapidar "Não existe caminho, o caminho se faz ao caminhar." Façamos o dever de casa.



 (*) Rinaldo Barros é professor - rb@opiniaopolitica.com

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