(publiojose@gmail.com)
Assim, fica configurado o inusitado da cena. Um bando de homens, (às
mulheres não era permitida tal empreitada, em função da cultura e hábitos
judaicos) carregando uma cama, desfila com um paralítico pelas ruas da cidade
em busca de solução para suas dores. Da cena se extrai, no mínimo, uma alta
demonstração de solidariedade, pois é muito difícil conciliar tempo e
interesses de um bom número de pessoas dispostas a desfilar, pelas ruas de uma
cidade, carregando um paralítico numa cama. A cena, olhando-se de fora, teria
também algo de ridículo, de insólito, de cômico. Mesmo assim, temos que admitir
o forte fascínio que o doente exercia sobre as pessoas a ponto de convencê-las
a se irmanarem com ele na incomum tarefa. Embora pobre, houve argumentos da
parte dele que sensibilizaram outros homens a ajudá-lo na busca da solução para
os seus problemas.
Do episódio podemos tirar várias lições. A principal delas é que aquele
homem jamais se entregou à sua desdita. Podemos concluir isso pelo simples fato
de que, ao primeiro sinal da presença de Jesus na cidade, ele se movimentou
para procurar ajuda. Pelo pronto atendimento dos amigos ao seu chamado, podemos
concluir também que em redor de si havia sempre trânsito de pessoas. Isso
demonstra que, apesar de suas dores, de sua vergonha, da sua incapacidade
física, ele tinha um comportamento que gerava nas pessoas afeição, carinho,
afinidade – irmandade até. Afinal, como narra o texto bíblico, aquele grupo de
companheiros topou uma empreitada nada fácil. Ao chegarem na casa onde Jesus
atendia o povo se depararam com uma difícil realidade: não havia como entrar na
casa; não havia como chegar a Jesus, pois o ambiente, de tão freqüentado,
estava completamente tomado.
Mesmo assim eles não desistiram. Acredito que tenham feito uma pequena
conferência em torno da dificuldade. “E agora, como vamos fazer?” Um deles,
certamente o mais afoito, sugeriu a cena que se perpetua até os dias de hoje:
“vamos pelo eirado”. E subiram o paralítico, com cama e tudo, até o telhado,
cavaram um buraco no teto e desceram o conjunto até Jesus. Muita coragem,
ousadia e disposição para ajudar uma pessoa necessitada! Você chegaria a tanto?
Do episódio o que me fascina é o carisma do paralítico. De como ele – em meio a
uma realidade dolorosa – permaneceu firme, deixando de lado uma realidade de
derrota, para seguir em frente. E como conseguiu unir ao seu projeto um grupo
compacto de homens dispostos a tudo para ajudá-lo. Ah, o melhor é o resultado.
Curado por Jesus, voltou para casa ereto, feliz, levando de volta o leito às
costas. Vitória. Pura vitória...
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