(publiojose@gmail.com)
A
guerra fria legou ao mundo, entre tantas desgraças, o Muro de Berlim.
Anteriormente, Mao Tse Tung já dera sua contribuição ao tema ao erguer a
Muralha da China. Tanto um como outro são símbolos físicos, palpáveis, do
desejo do homem de separar, segundo loucas ideologias, determinados
agrupamentos humanos dos demais. É também uma forma de se elitizar, de se
diferenciar em relação a outros, em função do estabelecimento de doutrinas as
mais diversas, de cunho ideológico, social, cultural, político, esportivo,
religioso, militar, econômico... É ainda, e principalmente, uma forma de
aprisionar pessoas segundo conveniências as mais variadas. São notórios os
casos recentes da Coréia do Norte e de Cuba, e da antiga União Soviética, todos
à esquerda do espectro político, países onde o ir e vir das pessoas era e é
dificultado a todo momento, conforme apontem as idiossincrasias de seus
dirigentes.
A direita também não ficou atrás e tratou de erigir seus muros, muitos
dos quais, se não em formato físico, também contribuíram para o estabelecimento
dos guetos mais diversos. Aliás, basta consultar a História para se ter
conhecimento dos muros físicos e não físicos que o homem construiu para se
separar de outros, ou para aprisionar populações inteiras – segundos seus
interesses. Na China, das dinastias imperiais, a Cidade Proibida é um exemplo
clássico de elitização e domínio de uma classe em relação às demais; na Grécia
e na Roma antigas, as castas também serviram de muro para separar os nobres de
escravos e plebeus; a Índia é famosa ainda hoje pelo sem número de castas que
servem de muro no contexto geográfico e populacional do país. Enfim, até onde o
olhar do passado e do presente alcançam, o homem teve em muros e separações de
toda ordem uma forte marca do seu mover na História.
Também pode ser incluído nesse tema a utilização, como muro, do aparato
econômico para separar pessoas, embora, de certa forma, isso possa ser visto
como incentivo às pessoas para a conquista de espaços maiores no ambiente
social que habitam (o tal do “subir na vida” que nossos pais tanto bradavam).
Mas, e os muros do Brasil? Como país diferente dos demais, ou melhor, mais
criativo que os demais, o Brasil tinha que arrasar nesse quesito. Aqui, além
dos formatos de muro conhecidos em outros quadrantes, a corrupção se
estabeleceu com um forte baluarte da separação entre as pessoas. Outro muro a
vicejar em solo verde e amarelo, além da corrupção, é o da impunidade. No
Brasil, legislação, costumes, hábitos, canalhices, sem-vergonhices e que tais
se transformaram em verdadeiros muros a beneficiar pilantras, ladrões de
colarinho branco, políticos, autoridades, funcionários públicos,
magistrados...
Como exemplo de muro, de fenômeno a distinguir pessoas, a corrupção
brasileira, principalmente em Brasília, chegou a tal ponto que saiu do terreno
do palpável, do real – e achegou-se à ficção. Ora, em um país onde o
trabalhador conta centavos para chegar ao fim do mês, como explicar um
funcionário de quarto escalão da Petrobras ter em banco estratosféricos 100
milhões de dólares! Uau! Isso, sim, é que é muro! E o que se vê mais em
Brasília? Integrantes do establishment local vivendo como nababos, padrão de
vida incompatível com os salários declarados – surrupiando, para tanto,
recursos da merenda de estudantes humildes, dos remédios dos idosos, de postos
de saúde, estradas, portos... Note-se que, de toda a roubalheira divulgada, a
Petrobras atingiu um nível ainda mais superior – pelos volumes registrados.
Alguém da empresa na cadeia? Não. Não é Brasília cidade de portentosos muros?
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