sexta-feira, 23 de outubro de 2015

RIZOLETE FERNANDES APRESENTA LIVRO EM SALAMANCA


grupo de autores, traductores y presentadores
Amiga Vivi,
Estive recentemente  em Salamanca-Espanha, onde fiz a apresentação do livro do poeta David Leite, aqui, na ocasião do lançamento, entre os outros poetas de língua portuguesa: Paulo de Tarso, Álvaro Farias, Antônio Salvado e seus apresentadores.
Beijos, 
Rizolete Fernandes

PALAVRAS DE RIZOLETE FERNANDES
O escritor e poeta David de Medeiros Leite está de livro novo na praça. Intitulado Ruminar, reúne vinte e dois poemas, que versam sobre o meio rural, tendo como personagens o gado e o vaqueiro, figuras familiares nos sertões do Nordeste brasileiro. O diferente nesta obra é que, no desenvolvimento do tema, o autor dotou de voz tanto vaqueiro quanto animais.
Assim sendo, na primeira parte, bois e vacas fazem digressões e análises sobre sua explorada condição de propriedade do homem. Ora se preocupam com o futuro das suas crias, ora com o ferro em brasa que em sua pele identificará seus donos. A vaca (ou o boi) diz a que veio, já no poema inicial, que intitula o livro – Ruminar:
O alimento é pretexto
para triturarmos aflições
maturarmos pensamentos
mastigarmos ilusões.

Mais adiante, o boi, face à tortura do ferro em brasa, se interroga, atônito, no poema A ferro e fogo:
Por que
nos marcam
a ferro e fogo?


Por que o afã
se já nos tem
cativos?
Por outro lado, esse mesmo gado perplexo, tem momentos de regozijo, na liberdade relativa da vida na pradaria, senão vejamos o que atesta uma rês, em Luar:
É privilégio nosso
contemplar a lua
tão despudoradamente


Em noites redondas,
plenas na própria quietude
ao luar ruminamos.
Já na segunda parte, é o vaqueiro que toma a palavra para discorrer sobre a relação com os animais aos seus cuidados. Mas atenção, porque aqui não se trata de uma relação usual do binômio homem/animal, vaqueiro/gado, porém de uma relação humanizada, como explícito em vários poemas, entre eles, Sujeitos (ruminam), em que elege a vaca Estrela para confidente; ou em Contraste, no qual tematiza uma festa no alpendre da casa, com dança e cantoria, mas com a qual pouco interage, posto que o pensamento está noutro lugar, ali nos arredores:

Em meio a tanta algaravia
olho para o estábulo
e tudo é calmaria…
Animais (irracionais) falantes/pensantes, é um recurso utilizado por escritores e pensadores desde a antiguidade, como bem frisou o Professor e poeta Alfredo Pérez de Alencart, no excelente prefácio ao livro, recurso este que, alhures, como aqui, tem pontuado a história da literatura. O narrador do conto Kholstomier (1885), do grande Liev Tolstói, é um cavalo.
O que o autor mossoroense faz, pois, é reviver e atualizar a prática, com estilo e eficiência. Seus animais se angustiam, sentem alegria, são vaidosos, invejosos, têm preocupação com o futuro de suas crias e seus amiguinhos, os filhos do vaqueiro, enquanto este com eles se relaciona como de humano para humano.
Atribuindo voz e sentimento ao gado, David Leite acabou por escrever um livro a um tempo criativo, bonito, enternecedor e que induz à reflexão. Variantes que, certamente, farão a diferença no mar de poesia que banha o Rio Grande do Norte, Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Teremos o maior prazer em receber seu comentário.