GOVERNAR
É...
Públio José – jornalista
É atribuída ao Presidente Washington Luiz a frase “governar é
construir estradas”. À época, tomou-se a expressão ao pé da letra, fato
que não constitui nenhum demérito. Afinal, no Brasil daquele tempo, com uma
malha viária praticamente inexistente e com uma deficiência enorme nas
condições de tráfego nas estradas então existentes, a melhor solução estava
realmente na disposição presidencial de estender, às mais remotas regiões
brasileiras, a construção de boas rodovias, para, com isso, prover os inúmeros
segmentos econômicos nacionais de condições ideais de produção, comercialização
e exportação de mercadorias e serviços. Se não teve as circunstâncias perfeitas
para materializar seus desejos na ocasião, Washington Luiz teve, pelo menos, o
condão de cunhar uma máxima que reverberou pelo tempo e se concretizou no
governo empreendedor e realizador de Juscelino Kubitschek.
Entretanto, nestes tempos bicudos que atravessamos, coincidentemente recheados
de caras novas de novos governantes, é chegada a hora de se fazer uma reflexão
mais profunda, uma releitura da famosa frase de Washington Luiz. Que, aliás,
continua atualíssima – porém, até os dias atuais, contemplada, atingida
por uma leitura superficial, linear, rasa, pobre em seus nobres significados.
Governar é, sem sombra de dúvidas, construir estradas. Mas hoje, com a
complexidade que sobreveio ao Brasil, manter a expressão em seu contexto
original seria uma atitude no mínimo simplista. Mesmo assim, como base, como
lastro para outras projeções, outros vislumbres, “governar é construir
estradas” permanece perfeitamente atual, se ampliarmos, se enlarguecermos a essência do seu
significado. Pois construir é um termo muito mais abrangente do que
simplesmente juntar pedra, areia e cimento.
E estrada tem um conteúdo muito mais amplo e profundo do que simplesmente
aplainar terrenos e abrir caminhos para a passagem de veículos. Assim, numa
linha de raciocínio, digamos, mais madura e condizente com a complexidade e
demandas atuais, construir significa, além do mais, consolidar sonhos, anseios
e aspirações do povo, sejam eles emoldurados em função de itens físicos e
materiais ou de ordem política, ideológica e social. Já estrada sinaliza para o
contato com novos horizontes, novas realidades, novos contextos. Enfim, um
forte instrumento de acesso do povo aos produtos e serviços prestados pelos
poderes públicos. Entretanto, quando se observa atualmente a péssima qualidade
dos serviços essenciais prestados pelo governo em seus vários níveis,
conclui-se que os tais mandatários não vislumbraram, em toda a sua extensão, a
nobreza do que seja “construir estradas”.
Pois construí-las nos encaminha para um patamar muito mais amplo e arrojado na
análise das carências coletivas. Ou por outra: “construir estradas”
nos leva a criar, para os necessitados, acessos mais substanciais e eficazes
aos serviços de saúde; a estabelecer caminhos que liguem os analfabetos ao
mundo do conhecimento; a projetar rumos que interliguem os jovens ao mercado de
trabalho; a direcionar o povo para dias de menos violência; a aplainar
realidades e obstáculos para, assim, priorizar as questões ambientais; a
asfaltar espaços que melhorem a qualidade do sistema de ensino; a
terraplanar... Como se vê, a essência da fala de Washington Luiz pode ser
redimensionada, ampliada, aprofundada. Só basta querer. Por enquanto, já seria
um bom início apensar-lhe uma nova moldura conceitual: “governar é
construir o bem estar do povo”. Você concorda? Já soa bem mais completo,
não é verdade?
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